Dilemas coletivos, desafios identitários
Daniel Toledo
Em sua 4ª edição, o Festival Audiovisual de Cultura de Minas Gerais (FAC) ampliou suas fronteiras, abrindo-se a produções audiovisuais realizadas por artistas, coletivos e agentes culturais de todo o Brasil. Dentre os trabalhos inscritos, vindos das cinco regiões do país, mais uma vez encontramos um conjunto de produções bastante heterogêneo, seja no que se refere aos recursos mobilizados em cada vídeo quanto às linguagens e temáticas presentes na concepção das obras.
Para além de formatos tradicionais do audiovisual, como curtas-metragens documentais e de ficção, também recebemos videoclipes, videopoemas, videodanças, ensaios, reportagens, fotofilmes e dezenas de vídeos que colocam em diálogo elementos vinculados a diferentes linguagens artísticas. Atravessando cenários domésticos, paisagens urbanas, espaços institucionais e estúdios de gravação, a experiência de curadoria considerou ainda a potência dos vídeos de animação, incorporando técnicas expressivas que perpassam o desenho, a escultura, a pintura, a arte digital e o vídeo de imersão.
No que se refere ao grupo de selecionados, ganham força uma série de trabalhos que destacam a ocupação de espaços urbanos após um longo período de isolamento social, trazendo à tela, além de ruas e parques, espaços semi-públicos como cinemas, mercados, feiras, brechós e salas de ensaio. Também há lugar, dentro da seleção, para populações em situação de rua, para artistas que tomam a cidade como um palco aberto e para outros que constroem narrativas e reflexões justamente a partir de deslocamentos entre campo e cidade, entre centro e periferia – seja a pé, de ônibus ou até mesmo nas costas de um cavalo.
A partir de cruzamentos entre elementos biográficos e aspectos coletivos de nossa existência social, muitos desses trabalhos contribuem à construção de uma história crítica de pequenas e grandes cidades, de comunidades rurais e urbanas e ainda de universos simbólicos tão distintos quando a pintura e o rap, o cinema e a capoeira. Por meio de memórias pessoais e sociais, somos convocados a debates identitários sobre noções de gênero, raça, classe, infância, família, maternidade, moralidade e liberdade.
Movido pela proposta de reunir imagens e expressões de uma comunidade cultural diversa, o FAC 2023 trouxe o desafio de lidar com um universo ainda mais amplo, dando origem a ausências que em próximas edições desejamos solucionar. Além disso, esta edição marcou o início um processo de inclusão de vídeos produzidos com e para crianças, considerando também por este prisma a permanente emergência de novos agentes culturais.